Os problemas do homeschooling
5 / Julho / 2022
Por Gladys Garcia*
O projeto sobre ensino domiciliar é bastante polêmico. Há inúmeros argumentos contra e a favor da liberação do chamado homeschooling. No entanto, é preciso analisar com olhar crítico quais as consequências em médio e longo prazo desta prática.
É fato que o projeto pode beneficiar alguns casos bem particulares, como de crianças com tipos de necessidades especiais mais severas e aquelas que, por algum motivo muito específico, não consiga se adaptar à escola. É ainda uma ótima opção como educação complementar.
No entanto, acredito que a maior perda dessas crianças esteja na socialização que a escola proporciona. Claro que os pequenos possuem outras formas de interação social, familiar, entre amigos ou em práticas de atividades físicas. Mas é na escola que ela tem um convívio mais frequente e diverso.
Entre os argumentos de defesa do ensino domiciliar, destaca-se que os seres humanos são individuais e têm necessidades diferentes. Eu concordo! É exatamente por isso que a escola deve congregar essas pessoas diversas, para que, juntas, possam crescer aprendendo a respeitar essas diferenças. Quando estamos em grupo, as necessidades coletivas se sobrepõem. A escola tem a possibilidade de cuidar das necessidades individuais, ao mesmo tempo que atende às do coletivo.
Caso esses indivíduos sejam educados separadamente, acreditando que todas as suas necessidades devem ser supridas em seu tempo, corremos o risco, enquanto sociedade, de criar pessoas incapazes de lidar com a frustração, de compartilhar problemas e desafios da sociedade.
Além de ter acesso a diferentes conteúdos sob vários pontos de vista e conviver com a diversidade de indivíduos, a escola é um lugar onde se desenvolvem as competências socioemocionais, tão requeridas para um profissional do século 21. Como essas crianças e adolescentes vão desenvolver essas competências, se forem privados de situações que a escola proporciona para que esse desenvolvimento ocorra? Este é um ponto importante a se considerar antes de optar por esta modalidade de ensino.
Muito além da decisão da família, podemos enfrentar outros problemas sociais. Hoje, é exigido que os pais matriculem seus filhos a partir dos quatro anos, seja em escola particular ou pública. Caso ela não seja matriculada na escola, quais serão as medidas para evitar que uma criança declarada inscrita no programa de educação domiciliar esteja, de fato, estudando ao invés de estar trabalhando para ajudar a renda familiar, sujeitas ao trabalho infantil?
Concluindo, acredito que seja importante focar em resolver os problemas da escola, com investimento adequado em infraestrutura, capacitação e valorização dos professores, além da mudança do ensino tradicional e conteudista para um ensino mais individualizado, customizado e focado nas competências socioemocionais e habilidades para a vida.
*Gladys Garcia é docente do curso de Pedagogia da Universidade Anhembi Morumbi.